Para quem chegou até este blog por acaso ou engano:
Aqui se escreve sobre a política e o modo de viver de uma cidade chamada Bagé, localizada no Sul do Rio Grande do Sul, um Estado da República do Brasil, no continente Americano do Sul. Aqui também se ironiza e se cultiva o bom humor, mas principalmente, lembra-se às autoridades que não se legisla ou governa de qualquer jeito, sem responsabilidade ou sem o olhar envolvente de quem está atento às coisas do mundo.

quinta-feira, 17 de março de 2011

E de repente os vereadores descobrem que Dudu não é do bem
A maioria dos vereadores da Câmara Municipal de Bagé detectou que o prefeito Luis Eduardo Colombo não é "nenhum santo", como tentou transparecer nas relações externas no início de seu governo, demonstrando disposição para o diálogo. "Ele fez marketing e proselitismo político", analisam os vereadores. Se o objetivo é aprofundar o conceito parlamentar sobre o chefe do Executivo, o resumo da ópera diz o seguinte: Dudu é do mal. Abraça a todos, diz que sim às ideias tantas, mas tem um punhal pronto para desferir o golpe em quem bem entender. Aquele ar professoral e seminarista de eventos públicos perde-se nos escaninhos da vida privada quando contrariado. E ele se transforma, como o homem e o lobisomem em noite de lua cheia. Dudu vira uma fera. É a imagem que a população não conhece e que existe. 
O conceito pode parecer cruel. As palavras podem transparecer duras, mas essa é uma análise da realidade política de Bagé, com ou sem metáforas. 
O panorama de crise de relações entre poderes chegou onde está não porque Adriana Lara, Silvio Machado, Jussara Carpes ou alguém do grupo politico de Luiz Fernando Mainardi pode ser candidato a prefeito nas próximas eleições. Não. É possível oferecer um outro olhar à situação. Se não, vejamos: O que há de semelhante em Adriana, Silvio e Jussara? 
Todos queriam espaço no governo, queriam ser agentes de transformação na administração pública, queriam cargos, projetos, programas... ser governo, visto que fazem parte da sigla partidária do prefeito. 
E o que aconteceu? Luis Eduardo fechou as portas. Cobriu olhos e ouvidos. 
Se o prefeito, no início do mandato, tivesse chamado Adriana Lara e seus mais de quatro mil votos de vereadora para o diálogo, convidando a fazer parte do governo, qual seria a reação se não aquela que diz: agora eu sou parte desse todo, eu sou governo. Mas, não. O mandatário maior resolveu aventurar sendo o senhor, único e todo poderoso. 
Com Jussara Carpes aconteceu algo diferente, embora o desenrolar da história seja semelhante. Jussara, pela corrente Unidade na Luta, indicou Roséli Safons para secretária de Cultura. Algum tempo e houve a desavença com a indicada. O cargo era da corrente petista. Luis Eduardo resolveu manter Roséli na secretaria, mesmo sabendo que estaria ganhando uma inimiga de peso dentro da Câmara. Ora, a gestora da Cultura não é nenhuma sumidade e tem pouco caquete para o cargo. Então, por que o prefeito não agradeceu seu tempo na secretaria e chamou Jussara para indicar outro nome? 
Mas, ele fez isso, dirão alguns. Convidando a própria vereadora para o cargo. Sim. Depois que a situação ficou insustentável. Primeiro deixou a ferida às intempéries do ar e quando apodreceu surgiu ele com um mísero band-aid. Era tarde demais, só restava mutilar. 
Silvio Machado, o atual presidente da Câmara, é outro que está no rol dos desgostosos. E com este era mais simples ainda. Silvio pediu, pediu, pediu e foi desdenhado. Reforma na avenida Espanha com indicativo da verba é o maior de todos os pedidos. O problema aí não é o prefeito deixar de resolver, é fazer-se de esquecido. Demonstrar um ar de paisagem. 
Os três parlamentares desgostosos são do Partido dos Trabalhadores, parte do governo. Nenhum é santo, tal e qual o prefeito. A diferença é que expoem seus porquês. São claros em afirmar que brigaram depois do desdem do prefeito.
Quanto ao grupo de Mainardi... Aí, o "buraco é mais embaixo". Mesmo assim, era possível segurar as pontas e não deixar descarrilhar. Mainardi tem dois vereadores sob sua tutela na Câmara: Edegar Franco e Téia Pereira, que somados aos três citados do PT e outros três da oposição oficial, Sonia, Gustavo e Divaldo, totalizam oito vereadores. Número suficiente para derrubar qualquer projeto, qualquer veto, qualquer governo. 
O ex-prefeito Luiz Fernando nunca morreu de amores por Luis Eduardo. Foi para o horário eleitoral e participou de carreatas em 2008 pedindo votos para ele porque não havia outro caminho, afinal havia sido derrotado duas vezes no desafio interno do PT e a oposição não oferecia nada melhor. Pelo contrário, tudo o que a oposição oferecia assustava Mainardi mais que um eventual governo de Luis Eduardo Colombo -, alguém que teve de demitir de seu secretariados duas vezes, da Educação e da Atividades Urbanas.
Mesmo assim, era possível para o prefeito chamar o ex e expor os seus objetivos administrativos, falar das obras e projetos deixados por esse, utilizar-se da política para dirimir dúvidas e contornar problemas. Parece que não houve interesse ou algo muito grave e secreto aconteceu nas relações entre Dudu e Mainardi depois de outubro de 2008. Algo tão terrível que não permitiu o diálogo. 
Agora, Mainardi quer voltar à Prefeitura, mesmo que seja pelo corpo e alma de Márcia, sua mulher. 
Assim, nesse tsunami petista, quem mais se assanha com essa falta de habilidade política de Luis Eduardo é a oposição. O problema é que a oposição não apresentou um nome forte para ser prefeito de Bagé, um nome capaz de atrair as massas, a opinião pública e o dinheiro para uma campanha mais cara que as outras, porque será contra o atual prefeito.  E uma campanha contra quem está no poder pede mais dinheiro que as outras. 
Enquanto isso, a missão da Câmara é minar o governo de Luis Eduardo ao máximo, porque os vereadores estão convictos que Dudu é do mal. 
Da manhã até o início da tarde dessa quinta-feira, 17, o objetivo do Legislativo foi mostrar ao prefeito o seu poder. E conseguiu. Fez gato e sapato com os projetos que tramitaram, incluindo os vetos do Executivo.
Aprovaram o que quiseram, arquivaram o que bem entenderam e, até, enterraram o Esporte e Lazer da Cidade. 
E ninguém aqui está dizendo que todos eles são do bem. Aliás, é difícil definir quem é quem nesse jogo do poder.