E de repente os vereadores descobrem que Dudu não é do bem
A maioria dos vereadores da Câmara Municipal de Bagé detectou que o prefeito Luis Eduardo Colombo não é "nenhum santo", como tentou transparecer nas relações externas no início de seu governo, demonstrando disposição para o diálogo. "Ele fez marketing e proselitismo político", analisam os vereadores. Se o objetivo é aprofundar o conceito parlamentar sobre o chefe do Executivo, o resumo da ópera diz o seguinte: Dudu é do mal. Abraça a todos, diz que sim às ideias tantas, mas tem um punhal pronto para desferir o golpe em quem bem entender. Aquele ar professoral e seminarista de eventos públicos perde-se nos escaninhos da vida privada quando contrariado. E ele se transforma, como o homem e o lobisomem em noite de lua cheia. Dudu vira uma fera. É a imagem que a população não conhece e que existe. O conceito pode parecer cruel. As palavras podem transparecer duras, mas essa é uma análise da realidade política de Bagé, com ou sem metáforas.
O panorama de crise de relações entre poderes chegou onde está não porque Adriana Lara, Silvio Machado, Jussara Carpes ou alguém do grupo politico de Luiz Fernando Mainardi pode ser candidato a prefeito nas próximas eleições. Não. É possível oferecer um outro olhar à situação. Se não, vejamos: O que há de semelhante em Adriana, Silvio e Jussara?
Todos queriam espaço no governo, queriam ser agentes de transformação na administração pública, queriam cargos, projetos, programas... ser governo, visto que fazem parte da sigla partidária do prefeito.
E o que aconteceu? Luis Eduardo fechou as portas. Cobriu olhos e ouvidos.
Se o prefeito, no início do mandato, tivesse chamado Adriana Lara e seus mais de quatro mil votos de vereadora para o diálogo, convidando a fazer parte do governo, qual seria a reação se não aquela que diz: agora eu sou parte desse todo, eu sou governo. Mas, não. O mandatário maior resolveu aventurar sendo o senhor, único e todo poderoso.
Com Jussara Carpes aconteceu algo diferente, embora o desenrolar da história seja semelhante. Jussara, pela corrente Unidade na Luta, indicou Roséli Safons para secretária de Cultura. Algum tempo e houve a desavença com a indicada. O cargo era da corrente petista. Luis Eduardo resolveu manter Roséli na secretaria, mesmo sabendo que estaria ganhando uma inimiga de peso dentro da Câmara. Ora, a gestora da Cultura não é nenhuma sumidade e tem pouco caquete para o cargo. Então, por que o prefeito não agradeceu seu tempo na secretaria e chamou Jussara para indicar outro nome?
Mas, ele fez isso, dirão alguns. Convidando a própria vereadora para o cargo. Sim. Depois que a situação ficou insustentável. Primeiro deixou a ferida às intempéries do ar e quando apodreceu surgiu ele com um mísero band-aid. Era tarde demais, só restava mutilar.
Silvio Machado, o atual presidente da Câmara, é outro que está no rol dos desgostosos. E com este era mais simples ainda. Silvio pediu, pediu, pediu e foi desdenhado. Reforma na avenida Espanha com indicativo da verba é o maior de todos os pedidos. O problema aí não é o prefeito deixar de resolver, é fazer-se de esquecido. Demonstrar um ar de paisagem.
Os três parlamentares desgostosos são do Partido dos Trabalhadores, parte do governo. Nenhum é santo, tal e qual o prefeito. A diferença é que expoem seus porquês. São claros em afirmar que brigaram depois do desdem do prefeito.
Quanto ao grupo de Mainardi... Aí, o "buraco é mais embaixo". Mesmo assim, era possível segurar as pontas e não deixar descarrilhar. Mainardi tem dois vereadores sob sua tutela na Câmara: Edegar Franco e Téia Pereira, que somados aos três citados do PT e outros três da oposição oficial, Sonia, Gustavo e Divaldo, totalizam oito vereadores. Número suficiente para derrubar qualquer projeto, qualquer veto, qualquer governo.
O ex-prefeito Luiz Fernando nunca morreu de amores por Luis Eduardo. Foi para o horário eleitoral e participou de carreatas em 2008 pedindo votos para ele porque não havia outro caminho, afinal havia sido derrotado duas vezes no desafio interno do PT e a oposição não oferecia nada melhor. Pelo contrário, tudo o que a oposição oferecia assustava Mainardi mais que um eventual governo de Luis Eduardo Colombo -, alguém que teve de demitir de seu secretariados duas vezes, da Educação e da Atividades Urbanas.
Mesmo assim, era possível para o prefeito chamar o ex e expor os seus objetivos administrativos, falar das obras e projetos deixados por esse, utilizar-se da política para dirimir dúvidas e contornar problemas. Parece que não houve interesse ou algo muito grave e secreto aconteceu nas relações entre Dudu e Mainardi depois de outubro de 2008. Algo tão terrível que não permitiu o diálogo.
Agora, Mainardi quer voltar à Prefeitura, mesmo que seja pelo corpo e alma de Márcia, sua mulher.
Assim, nesse tsunami petista, quem mais se assanha com essa falta de habilidade política de Luis Eduardo é a oposição. O problema é que a oposição não apresentou um nome forte para ser prefeito de Bagé, um nome capaz de atrair as massas, a opinião pública e o dinheiro para uma campanha mais cara que as outras, porque será contra o atual prefeito. E uma campanha contra quem está no poder pede mais dinheiro que as outras.
Enquanto isso, a missão da Câmara é minar o governo de Luis Eduardo ao máximo, porque os vereadores estão convictos que Dudu é do mal.
Da manhã até o início da tarde dessa quinta-feira, 17, o objetivo do Legislativo foi mostrar ao prefeito o seu poder. E conseguiu. Fez gato e sapato com os projetos que tramitaram, incluindo os vetos do Executivo.
Aprovaram o que quiseram, arquivaram o que bem entenderam e, até, enterraram o Esporte e Lazer da Cidade.
E ninguém aqui está dizendo que todos eles são do bem. Aliás, é difícil definir quem é quem nesse jogo do poder.