Para quem chegou até este blog por acaso ou engano:
Aqui se escreve sobre a política e o modo de viver de uma cidade chamada Bagé, localizada no Sul do Rio Grande do Sul, um Estado da República do Brasil, no continente Americano do Sul. Aqui também se ironiza e se cultiva o bom humor, mas principalmente, lembra-se às autoridades que não se legisla ou governa de qualquer jeito, sem responsabilidade ou sem o olhar envolvente de quem está atento às coisas do mundo.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010


Prêmio
Pílulas
de melhor
e pior 2010

Prêmio Pílula do Dia Seguinte
Tarso, Collares, Lara e Mainardi emocionados, vibrantes e unidos descendo a Avenida Sete de Setembro foi o maior e mais impactante acontecimento político de 2010.
A população foi “atacada” de surpresa, ninguém estava preparado para isso. Prêmio Pílula do Dia Seguinte, que é para evitar a proliferação de tais atos.

domingo, 5 de dezembro de 2010


Esta é uma obra de ficção, qualquer
semelhança com fatos futuros
terá sido mera coincidência.

CAPÍTULO 1

Palácio Piratini. Março de 2011.

Luiz Mainardi é chefe da Casa Civil do Governo do Rio Grande do Sul.

Dia de audiência.

Curioso, como sempre, Mainardi passa pela secretária e dá uma olhada no caderno de audiência de Tarso Genro. A secretária esclarece:

- Tem duas pessoas para falar com o governador. É o chefe de gabinete da deputada Juliana Brizola, senhor Jucelino Rosa dos Santos, e o deputado Luis Augusto Lara.

Mainardi olha para um lado e outro. Pergunta para a secretária:

- Eles estão aí, é?

- Sim, senhor. Na sala ao lado.

- Os dois juntos?

- Sim, responde a secretária.

O ex-prefeito dá dois passos, relembra o velho caquete da face esquerda, o olho direito pisca uma, duas vezes, não há como evitar. É o que acontece quando está nervoso.

Observa os dois à distância. Não pode perder a oportunidade de se mostrar acima daqueles “reles mortais”. Alguma coisa ele tem de fazer.

- Mas, o quê?, pensa Mainardi.

Neste momento, adentra o saguão principal do Palácio Piratini, o prefeito Dudu Colombo, acompanhado de seu deputado estadual, Raul Pont.

O novo chefe da Casa Civil parece acuado, olha para um lado e outro. É preciso pensar rápido. Afinal, o vitorioso é ele, não aqueles dois... ou três - reles.

CAPÍTULO 2

Palácio Piratini. Março de 2011.

No capítulo primeiro, Mainardi, Chefe da Casa Civil do Governo Gaúcho, depara-se na ante-sala de Tarso Genro com o deputado Lara, com Jucelino - chefe de Gabinete da deputada Juliana Brizola - e, quando menos esperava, chegam Dudu Colombo e Raul Pont, o estadual preferido do prefeito.

Mainardi disfarça para não ser visto.

Porém, no momento em que sabe de todos aqueles desafetos, ali, prontos para conversar com o governador, o ex-prefeito se sente no dever de mostrar quem é o “cara” no Piratini, quem é o grande vencedor.

Então, pensa, pensa, pensa. Até que... discreto, pergunta à secretária:

- Quem está com o governador, Elisa?

- Agora?

- Não, Elisa, domingo! Claro que é agora. Quem?

- Deixa eu ver aqui... o doutor Berfan Rosado e... o outro... Desculpe, mas não está anotado o nome dele aqui. Deixa eu lembrar... ouvi quando o governador...

- É um baixinho?

- É.O senhor conhece?

- Por acaso, seu nome é Bayard?

- Isso mesmo.

Mainardi tem uma reação estranha, esquisita. Ele não entende o que está acontecendo. Lara, Jucelino, Dudu e agora... o baixinho do trailler.

- É um complô. Só pode ser. O Tarso não pode fazer isso comigo. Por que estão todos aqui? Só falta a direção da Rural, o Guanaco, o Dalé...

O novo chefe de gabinete do governador anda para lá e cá, até que o prefeito Dudu percebe sua presença.

- Olha, Raul, o Mainardi.

E se aproxima. Dudu Colombo encaixa um sorriso para a ocasião, um sorriso parecido com o da Dilma Rousseff - de quem não sabe ou não está afim de sorrir.

Luiz Fernando tenta pensar rápido. Não consegue. Só restará o cumprimento comum, o sorriso e o caquete.

Lara e Jucelino percebem o movimento, levantam-se e também andam em direção ao...

“Onde ele está? Onde?” - Quem? “O Mainardi!”

Ele some. Num passe de mágica, some.

CAPÍTULO 3

Palácio Piratini. Março de 2011.

Dudu Colombo olha para Raul Pont incrédulo, que por sua vez questiona o deputado Lara e este, após olhar-se no grande espelho do saguão, pergunta para Jucelino e Bayard, que acaba de aparecer por ali, acompanhado de Berfran Rosado, seu líder político no PPS:

- Onde está Mainardi?

Ninguém sabe, ninguém viu.

- Ouvi dizer que foi para a Agricultura, anuncia o ex-vice prefeito Bayard.

- Na Agricultura? O que ele sabe de agricultura? - questiona Lara.

- Por isto, não. Tu também não sabias nada de Turismo, retruca Raul Pont.

Lara engole em seco. Dudu Colombo pergunta à secretária Elisa se o governador pode atendê-lo.

- Só um segundo, prefeito, vou verificar.

Enquanto a secretária se dirige ao gabinete de Tarso, os comentários continuam. Jucelino dos Santos, chefe de Gabinete da deputado Juliana Brizola, acredita que há alguma armação nesse desaparecimento de Mainardi.

- Na Agricultura, esse alemão não tá. Ele não ia se queimar. Daqui de Canoas, ele saiu ligeiro porque viu que não estava fazendo nada.

Elisa demora a voltar. Lara se aproxima da entrada do gabinete. Ouvem-se gritos. O deputado do PTB chama os outros e todos colam na porta. Tarso e Mainardi discutem.

- Tu não podes fazer isso comigo. Não pode receber os meus inimigos com abraços!

- É a governabilidade, Mainardi. Tu sabes muito bem o que é isso. Go-ver-na-bi-li-da-de!!

- Sei, sim. Mas não desse jeito. Não com todo esse carinho. Olha quem está lá fora! Olha!

- Calma, Mainardi. Esquece as pessoas e lembra dos partidos. PTB, PDT e PPS interessam ao nosso governo.

- E o Dudu? O Dudu é do PT.

- Mas é da D.S. Um perigo. Parece até que tu não conheces. Tu fosses obrigado a botar um deles no teu secretariado em Bagé. Por coincidência, o Dudu.

- Depois demiti. Duas vezes. Olha, Tarso, assim não dá. Eu vou sair da Casa Civil.

- Vais aceitar a Agricultura?

Mainardi fica boquiaberto: - Agricultura, eu?

- Sim. Agricultura, o que não falta é campo nesse RS.

Agora, o ex-prefeito fica mais irritado que nunca. Vira-se, abre a porta, depara-se com os cinco ouvintes e outros recém-chegados: o deputado Alceu Moreira, Gustavo Morais e Fernandinho.

CAPÍTULO 4

Palácio Piratini. Março de 2011.

Tarso chama Mainardi, que não quer ouvir.

- Mainardi! Volta aqui.

- Não, Tarso. Eu vou pra Assembleia. Vou ser deputado. Fui eleito. É lá o meu lugar.

Dá-se um silêncio. Gustavo Morais aproveita para se apresentar.

- Governador, eu sou o vereador Gustavo, do PMDB de Bagé. O senhor por acaso conhece o Ilimar Mainardi?

Tarso Genro não responde. Dirige-se ao amigo.

- Escuta, Mainardi. É preciso deixar as divergências de lado. Temos um projeto maior que é governar o Estado. Pensa bem. Olha aqui o prefeito Dudu. Ele veio convidar o Governo para os 200 Anos de Bagé. Vem aqui.

A contragosto, Luiz Fernando dá alguns passos de volta à porta do gabinete. Onde todos estão parados.

Tarso começa a falar, conciliador:

- Vem cá, meu amigo. Guardar rancor, inimizade faz mal pra alma, pro coração. Escuta. Vou propor a todos aqui. Todos que tem ligação com Bagé que a gente comemore o aniversário da cidade fazendo uma grande caminhada na Sete de Setembro. Todos juntos.

- Boa ideia, governador - vibra Dudu Colombo.

Silêncio. Gustavo Morais olha Jucelino que olha Bayard que olha Dudu que olha Lara que olha o espelho.

- Caminhada na Sete? Com eles? - retruca Mainardi.

- Sim. Todos. Juntos. Abraçados.

Aos poucos, Gustavo, Jucelino e Bayard vão saindo. De fininho. Lara e Dudu ficam. Tarso chama:

- Vem cá, Lara. Vem cá, Mainardi.

O governador coloca o braço direito sobre o ombro de Lara e o esquerdo sobre Mainardi, que reage.

- Desculpa, Tarso. Mas eu não vou caminhar na Sete ao lado desse aí.

- Que é isto, Mainardi?

- Não vou. Já disse que não vou.

Dudu tenta intervir concordando com Tarso. Mainardi volta a reagir.

- Já disse que não vou. Não te mete, Dudu. Não chega o que tu fizesse com os meus projetos? Tarso, não vou me expor com o Lara em Bagé. Tu não sabe o que já houve de briga entre nós. Prefiro deixar a política.

Capítulo 5

No final do capítulo quarto, a dúvida era: Mainardi aceitaria descer a Avenida Sete junto com Lara? Teria essa coragem? Lara, eleito deputado, poderia dizer não, mas permanecia calado. Só ouvindo.

Mainardi tenta uma última reação:

- Prefiro largar a política que caminhar ao lado dele.

Tarso Genro olha para Luiz Mainardi, coça o queixo e pensa. A secretária Elisa se aproxima e diz para o governador que os outros bageenses estão esperando do lado de fora. Ainda pretendem conversar com ele.

Uma tensão invade o ar. Dudu cochicha com Raul Pont. Os grandes eventos dos 200 Anos de Bagé estão na dependência de uma atitude do Governo do Estado. As tratativas com Brasília fracassaram. Faltou projeto. E para piorar, o secretário do Bicentenário da Cidade sumiu em algum ponto do leito do Rio Negro.

Pablo Madri ouviu de uma turma de bageenses reunida na Praça da Matriz que o Monstro da Panela do Candal existiu de verdade e deixou um filhote em algum mato às margens do rio. Deve ter ido atrás. Antes já tentara descobrir uma passagem secreta nos fundos da Catedral de São Sebastião, onde o coronel Carlos Telles e o presidente de Bagé João Nunes da Silva Tavares, em 1893, teria escondido uma grande quantidade de moedas de ouro. Não precisa dizer que a busca foi em vão. Depois disso, o novo secretário nunca foi o mesmo e quase se tornou um tipo popular da cidade, uma lenda urbana, digna de um livro do João Coronel Sais ou uma crônica de Juca Giórgis, seria uma espécie de Tibúrcio, Graxaim ou Alaor.

Mas, voltando a “Marcha Unida de Bagé na Sete de Setembro”, Tarso volta a olhar para Mainardi e Lara, agora com severidade. Afinal, ora que bobagem essa briga perto de um possível governaço - conciliador e de ação? Quem é Mainardi ou Lara para recusar um passeiozinho mixuruca em Bagé? É pelo bem da cidade.

- Eu vou, Tarso. Eu vou. Pronto. Eu vou. Vou.

O governador sentiu seus olhos marejarem, o coração apertado. Em lágrimas, disse:

- Isso merece uma comemoração. Já sei. Vamos fazer um churrasco. Um churrasco lá na tua chácara, Mainardi!

- Ah, não, Tarso! Aí já é demais. Aí é abuso! Nãão.

Capítulo 6

Palácio Piratini. Março de 2011.

Depois de aceitar caminhar na Avenida Sete de Setembro com o deputado Lara, o ex-prefeito Mainardi tenta resistir comer churrasco na chácara em Hulha Negra. Mas, acaba cedendo, mais uma vez.

Na chácara de Mainardi, entre uma costela, salsichão, arroz e salada, Tarso fala, enquanto lambe os dedos.

- Acabei de ter uma idéia sensacional.

Lara se entusiasma e puxa o saco:

- Que bom, governador! Gosto de governadores que tenham ideias. Já trabalhei com dois e não tinham tantas ideias.

- Isso ele deve dizer pra todos, resmunga Mainardi.

Lara não gosta do que ouviu e reclama:

- Olha aí, governador, o Mainardi tá me provocando.

- Mainardi, não provoca o Lara.

- Foi ele que começou, retruca o ex-prefeito.

Tarso Genro levanta, dá uma última lambida no dedo polegar e começa a falar sua ideia:

- Vamos todos juntos pra Europa.

- Oba!, vibra Luis Augusto.

- Começaremos pela Espanha, depois França, Alemanha...

Mainardi tem uma espécie de dejavú. Em 2000, após ser eleito prefeito de Bagé esteve na Europa com Jucelino dos Santos e o ex-reitor da Urcamp, Morvam Ferrugem. Agora, iria com Lara.

“O mundo é mesmo muito estranho”, pensou o petista, esquecendo que o mundo pode ser estranho, mas quem traça os caminhos são seus personagens. Neste caso, ele mesmo.

- E quando partimos, governador? - pergunta Lara.

- Amanhã, mesmo.

Luiz Mainardi tenta interceder.

- Mas, amanhã, Tarso... digo, governador. Amanhã, o senhor tem compromisso com o PDT e o PP.

- Eles estão pensando quais secretarias vão escolher. Enquanto isto, passeamos. Que tal?

- Maravilha, diz Lara.

Mainardi tenta mostrar interesse no governo e não no passeio:

- Eu queria a Saúde pra mim. A Saúde é melhor que o Trabalho.

O deputado do PTB reclama de novo:

- Olha aí, governador, tá me provocando. O Trabalho é melhor. Não é, governador? Diz pra ele.

Tarso pisca o olho para Mainardi, que também pisca o olho, mas é por culpa do caquete.

- Claro que o Trabalho é melhor que a Saúde. Agora, vamos dar jeito. A Europa nos espera.

Passagem de tempo.

Os três estão embarcando no avião.

- Vocês dois vão sentar um no lado do outro, diz Tarso Genro.

- Eu queria ir ao seu lado, governador. Mas, tudo bem. Por mim, não tem problema. Não estou aqui pra complicar. Fico ao lado do Mainardi.

- Tu pinta o cabelo, Lara? - pergunta o ex-prefeito.

Capítulo 7

Palácio Piratini. Março de 2011.

Tarso Genro, Mainardi e seu novo amigo Lara voltam da Europa. Cansados. Muito cansados. Afinal, não é fácil ficar para lá e para cá em Madri e Lisboa. Mainardi olhou de longe os olivais que Dudu visitou e parece ter pensado: “Em Bagé, essas bolinhas verdes não vão dar em nada.” Por sua vez, Lara esqueceu que não era mais do Turismo e aproveitou para passear.

Na volta, Luiz Mainardi recebe de presente do seu amigo Tarso Genro a troca da Casa Civil, onde não queria ficar porque era um entra e sai de inimigos, pela Secretaria de Agricultura. Vale lembrar que no início desta ficção ele foi nomeado para a Casa Civil.

Depois de ganhar o novo cargo, Mainardi planeja viajar até seu latifúndio em Hulha Negra. Quer passar uns dias olhando os campos e plantando alguma coisa, pois tem que se acostumar com essa história de agricultura.

- O que foi, Mainardi? - Pergunta Tarso. - Fala.

- Sabe o que é, Tarso... to com vontade de ir lá em casa.

- Pois o que te prende? Vai.

- Não tem problema? Quer dizer... não vai pegar mal?

Tarso Genro estranha aquela preocupação tão cidadã de Mainardi. O governador vendo aquela atitude do seu secretário, cutuca:

- O máximo que pode acontecer é alguém dizer em Bagé que enquanto o Lara trabalha o Mainardi descansa.

- Será que vão dizer?

- Nunca se sabe. - debocha Tarso.

- Não vou, então? - questiona o ex-prefeito.

- Vai. Vai e convida ele.

- Posso? Posso mesmo, governador? Posso convidar o Lara pra ir comigo?

- Claro que pode.

Tarso Genro não entende. Há algo de estranho nessa reação.

“Por que Mainardi ficou tão feliz de poder convidar o Lara para ir com ele?”, pensou o chefe do Executivo Gaúcho, enquanto observava seu companheiro de partido correndo faceiro e gritando o nome de Lara.

- Mainardi? - Chamou Tarso.

- O que foi?

- Eu to te estranhando, alemão.Vocês eram adversários, ou melhor, inimigos...

- Ele mesmo disse na Difusora esta semana: O embate foi duro. Mas a eleição passou. Agora estamos juntos.

Tarso não sabe se fica feliz por ser o responsável pela amizade ou preocupado. Afinal... essa história já estava indo longe demais. Em Bagé já comentavam que os dois abririam uma casa noturna. A “Together”.

Mas, deve ser maldade. De repente, Lara se dirige ao governador, cabisbaixo.

- Não quero ir com o Mainardi.

- Ué? Por quê?

- Eu vou passar uns dias na Serra. Não vai ser bom ficar em Bagé. O Molina me disse que as pessoas não estão gostando muito dessa história. To pensando em mudar meu título pra Caxias ou Bento...

- Mas, Lara, estava tudo tão bem entre vocês.

Mainardi intervem: - E a “Together”?

(Continua. Um dia.)

Capítulo 8

Palácio Piratini. Março de 2011.

Depois de desistir de passar uns dias na propriedade de Mainardi na Hulha Negra, porque poderia pegar mal (isto depois de terem - juntos - comido churrasco, passeado na Sete e viajado à Europa), Lara ameaça mudar seu domicílio eleitoral para Caxias, Bento ou Porto Alegre, onde fez 9.336 votos.

Mainardi lamenta a atitude do novo amigo. Afinal, os dois estavam até planejando abrir uma boate, a Together. O ex-prefeito de Bagé reage:

- O que tá acontecendo contigo, Lara? Nos últimos dias passamos momentos maravilhosos juntos... Está arrependido? Olha que eu conto pro Tarso.

Lara fica pensativo. Parece triste. Não dá a mínima para a provocação de “contar pro governador”.

- Não sei, Mainardi. Não sei se tudo isso vai valer a pena. Quando éramos adversários, apesar dos meus defeitos, todos sabiam que o teu lado não era o meu lado. E eu era admirado por isso. Agora, não... as pessoas não me reconhecem mais.

- Que conversa é essa? Crise de identidade numa hora dessas? Vai andar pra trás, carangueijo?

- Pode ser. O maior trunfo de Napoleão era saber o momento exato de atacar e... de recuar. Mainardi, eu estou pensando seriamente em recuar.

Luiz Mainardi não acredita no que está ouvindo. Lara recuar? Aquilo soou aos seus ouvidos como uma derrota. “Ele não tem coragem”, pensou o novo secretário de Agricultura do RS.

Lara parece estar decidido. Faria um pronunciamento público. Recusaria a Secretaria do Trabalho, diria não à união com o PT, recolheria-se à Assembleia Legislativa...

Aos poucos, em passos lentos, ele abandona aquela conversa e se afasta.

Mainardi não aguenta a situação, mais uma vez a reação surge com o caquete na face. Ele chama:

- Lara! Tu não podes fazer isso. E os teus companheiros? Os cargos pra todos? Na Assembleia tu não tem mais que meia dúzia de assessores... Escuta o que eu vou te dizer. Se caíres fora e ficar sem o Governo do Estado, eles te abandonam. Todos eles. Não pensa que estão ao teu lado por causa de teus olhos verdes, não mesmo. Querem é cargo. Lara! Lara?

O deputado do PTB para de caminhar. Vira-se e responde a Mainardi:

- Eu sei de tudo isso. Tudo, tudo. Refleti sobre cada ponto da minha decisão. E vou te dizer uma coisa, Mainardi, ser teu adversário, ser do lado contrário ao PT, é o que alimenta minha trajetória política. Vocês mudaram muito, é verdade. Não são os mesmos dos anos 80 e 90, mas a casca continua aí e vez por outra ela tem que se mostrar.

Mainardi quase explode em irritação. Tarso vai pensar que ele estragou toda a articulação. Num ímpeto de raiva, o alemão grita:

- Albergueiro! Albergueiro! É isso que tu és.

Lara quase reage, quase diz o que sempre pensou que as obras dele em Bagé eram superfaturadas. Mas, resistiu. E isso irritou mais Mainardi.

Porém, um brilho novo surgiu no olhar de Lara. Estava mais feliz e a cidade se apercebeu... (Continua)