Para quem chegou até este blog por acaso ou engano:
Aqui se escreve sobre a política e o modo de viver de uma cidade chamada Bagé, localizada no Sul do Rio Grande do Sul, um Estado da República do Brasil, no continente Americano do Sul. Aqui também se ironiza e se cultiva o bom humor, mas principalmente, lembra-se às autoridades que não se legisla ou governa de qualquer jeito, sem responsabilidade ou sem o olhar envolvente de quem está atento às coisas do mundo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Política de resultado
e pensamento único
Duas das mais destacadas personalidades politicas da Região, Afonso Hamm e Luis Augusto Lara, estiveram presentes em Bagé no final de semana para eventos políticos e de governo. Os dois apresentaram o mesmo discurso: a política de resultados. 
Eis o grande argumento filosófico da nova política: resultado prático, pragmatismo.
obra de Danúbio Gonçalves
Hamm e Lara tem razão em seus discursos, que em resumo lembra que “a política da desavença não cabe mais e que Bagé precisa de resultados práticos para desenvolver”. Ambos salvaguardam suas ações, ambos ufanam seus estilos, ambos avisam que “brigas” não levam a outro caminho que não aquele do “atraso”. 
Mais uma vez, esta página enaltece a razão de seus discursos, porém, em parte. Em parte.
Se os pensadores e formadores de opinião da cidade e da região não se aterem ao que está sendo dito e feito, o perigo de forjar uma geração inteira de “vaquinhas de presépio” é eminente. Isso porque já está incrustado no coletivo comunitário que o embate político é “baixaria ou atraso”, quando não é. A discussão, o debate, a dialética são vitais para o desenvolvimento social e intelectual de uma cidade, estado e país. A investigação racional dessa nova onda pragmática é necessária.
A ação benéfica é benvinda. Concordar com tudo, sem espaço para o contraditório, é maléfico. 
Algumas comunidades aceitam a casa pintada, a cerca arrumada e a geladeira cheia como o ideal de vida. Outras querem mais que isso, querem a filosofia, o conhecimento, a capacidade de discernimento. 
Eis uma discussão que não entrou no Plano de Desenvolvimento Econômico e Social de Bagé, apesar da vertente marxista da secretária municipal Magda Flores, a coordenadora do plano. 
Se a “nova ordem política” é pregar o resultado, sem o debate, é preciso abrir os olhos para o que pode resultar disso. Se o caminho continuar sendo esse, teremos sindicatos de trabalhadores e associações de moradores cabisbaixos - e já o temos; teremos parlamentares envergonhados de propor debate, porque a “ordem” é não entrar no contraditório; teremos um povo “concordino”, acreditando, inclusive, que política, religião e futebol não se discute, quando é, exatamente, o contrário. Discute-se, sim, e muito.
Vale, ainda, destacar que discutir não é o debate vazio, o popular “bate boca” vazio, é mais, bem mais. 
Portanto, cuidado. Essa história de política de resultados é uma via de duas mãos, e quem não concordar pode ser colocado à margem. As grandes nações aprenderam a respeitar seus cidadãos porque eles foram protagonistas de seus destinos, através do debate, das idéias próprias, da capacidade de  discernimento, - coisas que só são possíveis praticando.
Bagé não é uma cidade sem desenvolvimento. Pelo contrário, a história conta isso, aqui viveram pessoas de vanguarda, de ousadias, de discurso afiado, ideias, ideais e resultados práticos, como Gaspar Silveira Martins, Emílio Guilain, Antônio Ribeiro de Magalhães, José Octávio, Fanfa Ribas, entre tantos e tantos outros.
Não é possível levar em consideração, simples e vago, o hiato de duas décadas, quando os investimentos se foram, nos anos 80 e 90.
De agora para o futuro, se não vingar o discurso único, não há como retroceder, Bagé desenvolverá, em todos os sentidos.